Secretário do Governo do Rio denuncia corrupção e é "promovido" a diretor do APERJ
Giro da Arquivo #307 | Victor Travancas tenta se demitir desde fevereiro. Na sexta, virou diretor-geral do Arquivo Público do Rio
Não há o que não haja nos arquivos brasileiros. A última vem do Rio e envolve a direção do Arquivo Público do Estado (APERJ), simplesmente uma das mais importantes instituições arquivísticas brasileiras.
A história é confusa. Em fevereiro, o advogado Victor Travancas, até então subsecretário do Gabinete do governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro (PL), pediu exoneração do cargo. Na ocasião, Travancas tornou públicas diversas denúncias sobre possíveis falhas de segurança na Marques de Sapucaí, palco do carnaval carioca. O advogado também acusou o entorno do governador de utilizar – indevidamente – R$ 3 milhões no camarote do Governo do Rio instalado na Passarela do Samba.
Quando pediu exoneração pela primeira vez, Travancas alegou que queria se “distanciar das inúmeras investigações de corrupção que pairam sobre o Governo”. O advogado esperava ser demitido imediatamente, mas não foi o que aconteceu. Claudio Castro decidiu simplesmente mantê-lo no cargo.
Em maio, Travancas foi à Justiça para tentar uma liminar que garantisse sua exoneração. Não ganhou. Os meses se passaram. O advogado continuou torpedeando o governador, mas não foi demitido. Até que na última sexta, 03, finalmente o Diário Oficial do Estado do Rio publicou a exoneração de Victor Travancas da Secretaria do Gabinete do Governador.
Foi aí que o Arquivo Público do Estado apareceu na história. Claudio Castro exonerou Travancas do Gabinete, mas – ato contínuo – nomeou o advogado como diretor geral do APERJ. Junto com ele, outros dez comissionados foram nomeados para trabalhar na instituição – todos ligados ao advogado.
Em nota à imprensa, Victor Travancas comemorou sua exoneração e disse que não vai tomar posse como diretor do APERJ. “Jamais tomarei posse num lugar onde não tenho as atribuições técnicas necessárias” – publicou. Travancas admitiu que não tem “qualquer ligação com a área de Arquivologia” e retrucou: “Tal função [de diretor do APERJ] deve ser exercida por um pesquisador da área. Mas num governo que um analfabeto preside a Faetec e uma desqualificada científica preside a Faperj, nada se pode esperar”.
Até o fechamento desta edição, funcionários do APERJ não sabiam informar ao certo quem é o diretor do órgão. Travancas, nomeado na sexta, não assumiu o cargo. Os indicados para acompanhá-lo também não começaram a trabalhar na instituição. Ninguém sabe ao certo quem ficará responsável pelo Arquivo Público. O que se sabe, isso sim, é que o APERJ parece ter pouco significado para o governador do Rio.
Outros destaques
Nunca na história desta país uma ministra de Estado havia “inaugurado” um plano de classificação de documentos. Pois foi o que aconteceu na última quarta, 04. Esther Dweck, ministra da Gestão e da Inovação, acompanhou pessoalmente a “aprovação” do plano da Fundação Biblioteca Nacional. A “notícia” ganhou ares de epopeia nas redes e no sítio do Arquivo Nacional, mas 2024 termina como mais um ano tímido para a gestão de documentos no Governo Federal. No total, o AN aprovou apenas cinco planos de classificação neste ano (dois a mais do que em 2023, mas seis a menos que em 2022).
A Associação dos Servidores do Arquivo Nacional (ASSAN) publicou uma dura carta em resposta à nota do MGI (publicada em 27 de novembro). De acordo com a associação, as informações divulgadas pelo ministério são “no mínimo discutíveis”. A ASSAN também lamentou que “o Arquivo Nacional permaneça sob tamanho ataque durante o governo Lula” (leia a íntegra).
Por falar em ASSAN, a associação tem nova diretoria executiva. Na semana passada, as servidoras Angélica Ricci, Viviane Gouvêa, Helena Miranda, Louise Gabler, Aline Torres e Dilma Cabral foram eleitas para o próximo biênio. Dentre as propostas da chapa, estão a defesa do fortalecimento do Arquivo Nacional e a reivindicação de uma política de pessoal para a instituição, entre outras demandas.
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🔰 Brasil
Arquivo Público de Campos deve receber reforma. (G1 InterTV)
Prefeitura inicia reformas no “Cadeião” que dará lugar ao Arquivo Municipal de Patos de Minas. (Patos Hoje)
Comissão do Programa Memória do MPMA e Iphan discutem situação do Arquivo Público do Maranhão. (MPMA)
Gestão patrimonial organiza as bases para um futuro Arquivo Municipal de Belém. (Rede Pará)
AN coleta dados sobre impacto financeiro de acervos não tratados nos órgãos federais. (Arquivo Nacional)
📆Agenda & Oportunidades
12/12, em São Paulo: Arquivo, História e Memória: preservação da memória do Departamento de história da FFLCH/USP.
13/12, online: lançamento da nova edição de Informação Arquivística.
Até 13/01: inscrições em concurso para o Conselho Regional de Psicologia (BA).
Até 20/01: inscrições para o concurso do TRT 15ª Região (Campinas).
Até 07/01: inscrições para concurso da Embrapa.
🌎 Mundo
Inglaterra: Nokia comemora o status de cultura pop abrindo um arquivo de design. (The Guardian)
Uruguai: foi apresentada a iniciativa “Acesso aos Arquivos do Passado Presente” (M24)
Chile: plataforma digital reúne 23 mil arquivos desclassificados dos EUA sobre ditadura no país. (Diario Chile)
EUA: EUA financiarão programa para proteger os arquivos digitais da mídia da América Central. (AP)
O Conselho Internacional de Arquivos (ICA) escolheu o tema da Semana Internacional de Arquivos de 2025. As comemorações promovidas pela entidade abordarão a temática Arquivos Acessíveis.
📰 Para ler com calma
Carta da China: Os arquivos nacionais são uma nova janela para a compreensão da cultura chinesa. (CN)
Mais de 300 páginas': novos documentos revelam problemas legais por trás da separação dos Beatles. (O Globo)
Doação de acervo põe São Paulo na rota das pesquisas sobre Guerra do Paraguai. (Folha de S. Paulo)
📺 Para ver com calma
Apresentação do Mapa Colaborativo Mulheres nos Arquivos - traMA (Curso de Arquivologia FURG)