Quem é Mônica Lima, a nova diretora do Arquivo Nacional
Giro da Arquivo #312 | MGI anunciou a historiadora na última quarta (22)
A historiadora Mônica Lima e Souza será a nova diretora do Arquivo Nacional (AN). O anúncio foi feito na última quarta (22), pelo Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI). Lima já faz parte da atual direção do AN: desde agosto de 2023, ela ocupa a Coordenação-Geral de Articulação de Projetos e Internacionalização.
A nova diretora atua na área da educação há cerca de 40 anos. Desde 2011, ela é professora do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Na UFRJ, Lima coordenou o Laboratório de Estudos Africanos (LEÁFRICA) e participou do grupo de pesquisadores que redigiu o dossiê para declaração do Cais do Valongo como Patrimônio Mundial. A historiadora também foi consultora do projeto de Museu do Território na Pequena África, iniciativa do Instituto de História e Cultura Afro-Brasileira (IHCAB).
De acordo com informações disponibilizadas em seu currículo, a historiadora “pesquisou em arquivos e centros de documentação na África, na Europa e no Brasil”. Mônica Lima, entretanto, nunca dirigiu uma instituição ou serviço arquivístico. Sua primeira experiência em arquivos para além da pesquisa começou em 2023, quando ela aceitou coordenar a área de Articulação de Projetos e Internacionalização do Arquivo Nacional.
À frente da Coordenação, Mônica Lima fez algumas viagens ao exterior e foi uma das articuladoras do Acordo de Cooperação Técnica celebrado entre o Arquivo Nacional e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em dezembro de 2023. O acordo, amplamente contestado pelos representantes da sociedade civil no Conselho Nacional de Arquivos (Conarq), tem por objetivo “fortalecer a política nacional de arquivos”, mas até agora avançou timidamente. No final do ano passado, o AN lançou dois editais para a seleção dos consultores que deverão produzir os primeiros produtos derivados da parceria.
Além de uma atuação com poucas entregas até o momento, ao longo dos últimos meses a nova diretora também se envolveu em polêmicas. Em junho do ano passado, ela se opôs à participação do ex-diretor do AN, Jaime Antunes, no Comitê Executivo do Cais Valongo. Na ocasião, o Fórum Nacional das Associações de Arquivologia do Brasil (FNArq) publicou uma nota pública de solidariedade a Antunes. No blog Conversa de Historiadoras, a historiadora Hebe de Mattos defendeu Mônica Lima. O episódio gerou celeuma entre alguns historiadores.
Com a indicação do MGI, Mônica Lima torna-se a trigésima diretora-geral do Arquivo Nacional – a sexta mulher a ocupar o posto. Como decorrência do cargo, ela também assumirá a presidência do Conselho Nacional de Arquivos. Para o Ministério, sua missão será “dar continuidade” aos projetos da gestão atual. Entretanto, o passivo herdado pela nova diretora é grande: há anos Arquivo Nacional e Conarq vivem uma crise sem precedentes. Como o Giro tem mostrado (e ao contrário do discurso oficial), nos últimos anos o AN teve perdas orçamentárias significativas e viu sua autonomia administrativa ser reduzida. Além de problemas históricos, como a falta de um plano de carreira para seus servidores e a degradação de suas instalações, na última década a instituição também viveu grandes retrocessos em áreas como gestão e preservação de documentos.
Como lembrou a Associação dos Servidores do Arquivo Nacional (ASSAN), em carta-aberta publicada na quarta (22), horas antes da oficialização de Mônica Lima como nova diretora do órgão, “a proeminência que a instituição havia conquistado nas últimas décadas, em gestão de documentos e preservação digital, foi debilitada ao longo das gestões recentes”. Neste sentido – e considerando a inércia e a incapacidade da direção de Ana Flávia Magalhães Pinto em reverter este quadro –, o desafio da nova diretora é ainda maior.
Outros destaques
O Arquivo Nacional lança hoje (28) a publicação Marcadores de gênero, raça e regionalidade: guia de fundos. O instrumento está sendo apresentado como “inovador”. Segundo nota metodológica, o guia parte de descritores que integram o vocabulário controlado do Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN). No entanto, quem pesquisa o acervo do AN percebe que a preocupação em atualizar a listagem de descritores de forma a atender demandas sociais e políticas contemporâneas não é de hoje, embora o esforço técnico esbarre em limitações do próprio sistema - que carece de ações que o tornem mais eficiente. Parece no mínimo curioso notar que muitos fundos e coleções destacados no recente guia não apresentam os mesmos termos em seus campos de descrição no SIAN, dificultando a pesquisa pela base de dados, mas conferindo ares de novidade à publicação.
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🔰 Brasil
Rio de Janeiro: AAERJ e Anpuh-Rio publicam uma nova nota pública sobre a situação das as instituições arquivísticas na cidade do Rio de Janeiro. (AAERJ)
Minas Gerais: Arquivo Público Mineiro lança catálogo on-line com documentos históricos do Vale do Jequitinhonha. (APM)
Casa Rui Barbosa: fundação precisa erguer anexo para poder abrigar acervo. (O Globo)
Maranhão: MPF cobra do estado recuperação do Arquivo Público Estadual. (G1)
Arquivo Nacional sobre ataque hacker na página do Prêmio Memórias Reveladas. (Arquivo Nacional)
📆Agenda & Oportunidades
Hoje, em São Paulo: ANPD e CERT.br realizam evento que discute a importância da segurança para a proteção de dados.
30/01, em Brasília e online: Ibict promove evento com palestras sobre governança de dados e LGPD.
Até 03/02: Inscrições para curso de especialização em Conservação e Gestão do Patrimônio Cultural da PUC-Minas e para assessoria técnica em arquivos, promovido pela UFF.
🌎 Mundo
Estados Unidos: Arquivo Nacional está atrás de voluntários que compreendam letra cursiva. (Planeta)
Inglaterra: Importante arquivo da história de Bradford ainda está procurando um novo lar (Yahoo)
Síria: Um ponto cego na Síria pós-Assad: O destino dos registros de arquivo do Estado (Arab Center Washington DC)
Cuba: Promoção de projetos de gerenciamento de documentos e arquivos (Rádio Santa Cruz)
📰 Para ler com calma
Trump tira sigilo de arquivos sobre mortes de J.F.K. e Martin Luther King. (CNN Brasil)
Uma nova forma de conhecer o acervo do Arquivo Público Mineiro (Por dentro do acervo)
📺 Para ver com calma
Escolas de Arquivologia no Brasil (NML Arquivos)