Instituições contabilizam danos e se mobilizam para salvar acervos atingidos pelas enchentes no RS
Ano VI – Edição 277
Quase quinze dias depois do início daquela que já é considerada a maior catástrofe climática da história do Brasil, instituições começam a contabilizar estragos e agir para salvar o que restou dos acervos atingidos pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Mais de 400 municípios do Estado foram afetados pela tragédia; 150 pessoas já morreram desde o início das chuvas.
Na segunda, 6, o Arquivo Nacional se reuniu com serviços arquivísticos integrantes do Sistema de Gestão de Documentos e Arquivos da Administração Pública Federal (Siga). De acordo com o AN, a reuniu emergencial serviu para “avaliar os impactos e eventuais danos aos acervos mantidos pelos órgão e entidades” do Siga no Rio Grande do Sul. A instituição afirma que trinta representantes de serviços participaram do encontro virtual, mas não divulgou um balanço sobre quantos e quais acervos foram atingidos no Estado.
Na quinta, 9, o AN e o Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul divulgaram o documento Ações iniciais para salvaguarda de arquivos após ocorrência de desastre natural por inundação. De acordo com o AN, o documento visa “fornecer orientações técnicas preliminares para ações emergenciais de resgate do acervo” e foi elaborado com o apoio do Departamento de Arquivo Geral da Universidade Federal de Santa Maria – que foi atingido por uma inundação de grandes proporções. Conteúdo similar foi divulgado pela Associação dos Arquivistas do Estado do Rio Grande do Sul (AARS), na segunda, 8.
O Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul (APERS) também lançou na quinta, 9, o S.O.S. Memória e Patrimônio RS, um cadastro para pessoas com ou sem formação em Arquivologia que desejam contribuir para o resgate, salvamento e recuperação de acervos atingidos pelas enchentes. A Secretaria da Cultura do Estado lançou uma plataforma similar, destinada a museus e outros equipamentos culturais.
Além de cadastrar voluntários, o APERS também busca informações sobre acervos atingidos pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Diferentemente de outras instituições estaduais, como o Arquivo Público do Estado de São Paulo, o Arquivo Público gaúcho tem pouca interlocução com os municípios do interior. O levantamento lançado na semana passada busca coletar algum tipo de informação a respeito da realidade enfrentada em e fora de Porto Alegre.
Enquanto as instituições arquivísticas atuam para descobrir o que aconteceu com os arquivos das cidades inundadas, em outra frente, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) deu início a uma ação conjunta emergencial para agilizar a regularização da documentação básica das pessoas que perderam seus documentos nas enchentes. Com o apoio da Corregedoria Nacional de Justiça, da Corregedoria-Geral da Justiça do Estado e das associações dos cartórios extrajudiciais gaúchos, o MDHC vai realizar um mutirão para emitir a segunda via de certidões de nascimento e casamento de pessoas atingidas pela tragédia. Os documentos serão emitidos de forma gratuita.
Nos lugares em que a água já baixou, a corrida agora é contra o tempo. Os acervos que foram atingidos por enchentes correm o risco de serem tomados por fungos decorrentes da umidade e da sujeira da água. No Museu Estadual do Carvão, em Arroio dos Ratos, milhares de documentos já foram levados para uma cidade próxima, onde foram congelados. O mesmo ocorre também com os arquivos da UFSM, como mostrou uma reportagem do Fantástico (TV Globo), no último domingo.
Enquanto instituições buscam meios para lidar com a catástrofe, gaúchos e gaúchas também tentam salvar o que restou de seus próprios arquivos. Nesta semana, o vídeo de uma veterinária de Novo Hamburgo – que aparece secando as fotos de sua família – comoveu o país. Inspirado na história, o escritor Ruy Castro publicou uma crônica sobre quem, agora, tentar salvar, também, sua própria história.
HONÓRIO
O Honório – Grupo de Pesquisas em Políticas Públicas Arquivísticas lançou a terceira edição de suas Notas Técnicas. A mais nova edição é dedicada a uma análise do acordo de cooperação técnica internacional firmado entre o Arquivo Nacional e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) para o “fortalecimento da Política Nacional de Arquivos”. Leia mais clicando aqui.
BRASIL
A última sexta, 10, foi dedicada a discutir a trajetória e as perspectivas futuras para o Conselho Nacional de Arquivos (CONARQ), que completa 30 anos em dezembro. Um evento promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Informação da Universidade Federal Fluminense reuniu conselheiros e especialistas em políticas públicas arquivísticas para tratar do tema. O tom geral foi de crítica à condução do CONARQ nos últimos anos. Dentre os encaminhamentos do evento, saiu a proposta de instalação de um fórum permanente de acompanhamento da Política Nacional de Arquivos. A íntegra do encontro, que foi transmitido em vídeo, está na nossa seção “Para ver com calma”.
Convidada para abrir o seminário, a presidente do CONARQ, Ana Flavia Magalhães Pinto não compareceu ao evento. A assessoria da presidente alegou motivos de saúde para justificar a ausência e propôs que Daniela Gorayeb, chefa da Assessoria de Participação Social e Diversidade do Ministério da Gestão e da Inovação realizasse a conferência de abertura. Gorayeb não tem qualquer relação com o CONARQ. Por isso, a coordenação do PPGCI/UFF considerou que a indicação não seria condizente com o evento e não aceitou a sugestão.
O diretor-substituto do Arquivo Nacional, Jean Camoleze, se reuniu com representantes do Sindicato Intermunicipal dos Servidores Públicos Federais do Município do Rio de Janeiro (Sindisep-RJ), na última terça, 7. O encontro tratou das demandas históricas de servidores do AN, em especial aquelas que dizem respeito à reestruturação do plano de cargos do órgão. O encontro terminou com promessas de “valorização” e “compromisso de diálogo”. Como sempre.
Na última quinta, 9, o governo do Estado de Mato Grosso reinaugurou o prédio do Arquivo Público estadual, agora reformado. R$ 1,4 milhão foram investidos na reforma.
Não há o que não haja… O Arquivo Público Mineiro, responsável por custodiar documentos de valor permanente, entregou “todo o acervo de documentos dos antigos Departamento de Ordem Política e Social de Minas Gerais" (DOPS-MG) e Coordenação Geral de Segurança (Coseg)” ao Ministério Público Federal. O MPF vai tratar o acervo e, dizem, devolver ao APM depois.
A revista Officina, publicada pela Associação de Arquivistas de São Paulo, lançou um número inteiramente dedicado ao legado de Ana Maria de Almeida Camargo.
AGENDA
14 a 17 de maio, online: Salvaguardando o Patrimônio Documental: oficinas de conservação, organização e arquivamento de acervos documentais históricos.
23 de maio, no Rio: Conexões Afro-Atlânticas: História Pública e Memória da Escravidão.
18 a 21 de junho, em Brasília: Oficina de Classificação de Documentos.
Até 30 de novembro: convocação para os Prêmios ALA.
OPORTUNIDADES
Concurso para Prefeitura Municipal de Uberaba (MG). Inscrições até 09 de maio.
#SNGA2024
MUNDO
O Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Portugal, anunciou a digitalização do extenso arquivo do ditador António de Oliveira Salazar, que governou o país durante mais de 40 anos.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) incluiu três arquivos indonésios em sua lista de Memória do Mundo para a Ásia e o Pacífico.
A emissora pública ucraniana pediu apoio à japonesa NHK para evitar que seus arquivos – incluindo muitos registros da época em que o país fazia parte da União Soviética – se percam em meio à guerra que assola o país. Uma equipe foi da Ucrânia ao Japão levando rolos de filmes antigos para serem preservados pela NHK.
O Uruguai aprovou a lei que dá acesso aos arquivos da ditadura no país. O dispositivo também cria uma seção específica do Archivo General de la Nación para preservar os documentos do período.
PARA LER COM CALMA
Como o laboratório de conservação da NU enfrenta o teste do tempo para preservar arquivos históricos (em inglês, via The Daily Northwestern).
Escavando a história das mulheres nos arquivos (em inglês, via UCLA).
O National Archives e Ancestry se uniram para digitalizar milhares de registros (em espanhol, via Infobae).
Documentos antigos das faculdades superiores que formaram a UFU são descobertos no Setor de Arquivo (via comunica.ufu.br).
PARA VER COM CALMA
Conarq, 30 anos: trajetória, balanço e perspectivas (via Divulgação PPGCI).