Curso de Arquivologia que promete formação em até três anos acende alerta sobre qualidade no Ensino Superior
Ano VI – Edição 285
O Centro Universitário Cidade Verde (UniCV), de Maringá (PR), tornou-se a décima oitava instituição brasileira a ofertar um curso de Arquivologia – a segunda na modalidade à distância (EAD) e em caráter privado. O curso começou a funcionar em janeiro deste ano, mas a divulgação só começou dias atrás.
De acordo com dados do portal e-MEC, mantido pelo Ministério da Educação, o curso da UniCV tem carga horária de 2500 horas e poderá ter até mil alunos. A promessa é de que o diploma de Ensino Superior possa ser obtido em até três anos – ao contrário da maior parte das instituições públicas. O “investimento” é de pouco mais de 150 reais mensais.
O curso da UniCV conta com 24 disciplinas – apenas cinco nominalmente relacionadas à Arquivologia. A graduação é coordenada por Magda Maria Fernandes, pedagoga que também é responsável pelos cursos de Biblioteconomia, Psicopedagogia, Geografia, Matemática e Educação Especial do Centro Universitário Cidade Verde.
O mais novo curso de Arquivologia do Brasil segue a mesma dinâmica da graduação mantida pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci, mais conhecido como UNIASSELVI: muitas vagas, preços baixos, curta duração, percepção de “facilidade” e, principalmente, um profundo afastamento da Arquivologia. Na UNIASSELVI, que hoje oferece mais de 6.600 vagas, só 11 das 33 disciplinas obrigatórias tratam diretamente de arquivos. Na última avaliação realizada pelo MEC, a graduação obteve nota 4 – abaixo da maioria dos cursos ofertados por instituições públicas e avaliados recentemente, todos com nota máxima.
Do ponto de vista quantitativo, a entrada de universidades privadas e da modalidade EAD na oferta de cursos de Arquivologia está mudando o cenário da formação de novos arquivistas no Brasil. De acordo com dados do Censo da Educação Superior, entre 2020 e 2021 (anos de criação e de abertura do curso da UNIASSELVI) o número de vagas de Arquivologia saltou de aproximadamente 1,7 mil para 8,9 mil. Os dados de ingressantes também aumentaram, superando os 1,3 mil por ano. Em 2022, o número de matrículas alcançou o recorde de 4.208 alunos.
Em que pese o aumento, porém, relação de concluintes (ou seja, alunos formados nos cursos) despencou. Em 2019, foram 487 novos arquivistas. Em 2022, apenas 344. A expansão da Arquivologia nas universidades privadas não ampliou significativamente o número de arquivistas no mercado de trabalho – ao menos até agora.
De acordo com os dados do INEP, em 2022 o número de alunos ingressantes em Arquivologia em universidades públicas (federais e estaduais) foi de 782, enquanto no ensino privado foi de 536 novos matriculados. O dado mais atual disponibilizado pelo MEC (também de 2022) mostra que, dos 4.208 discentes de Arquivologia regularmente matriculados no país, 937 já cursavam a graduação na modalidade EAD.
O avanço na oferta de cursos EAD em Arquivologia preocupa parte da comunidade arquivística brasileira, mas não tem sido tema constante de debate. O Fórum de Ensino e Pesquisa em Arquivologia (FEPARQ), que no passado já se discutiu amplamente a formação de novos arquivistas, não abordou o tema nos últimos anos – e aparentemente não o fará, como mostra a programação da VIII Reunião Brasileira de Ensino e Pesquisa em Arquivologia, que começa no final do mês, em Vitória (ES).
Sem discussão, ficam interditados os caminhos para superar a principal crítica aos cursos de Arquivologia EAD – sua falta de qualidade e aderência à área. E também se bloqueiam as vias de debate sobre, afinal, o quão importante seria se as universidades públicas também ofertassem cursos nesta modalidade.
BRASIL
Especializada em gerar contendas desnecessárias, a direção do Arquivo Nacional entrou em mais uma. Na quinta (04), Maria Izabel Oliveira, servidora de carreira e ex-diretora do AN, publicou uma “nota de perplexidade” na qual contou que a coordenadora-geral de articulação de projetos e internacionalização do órgão, Mônica Lima e Sousa, se opôs à participação de Jaime Antunes – arquivista, professor e ex-diretor da instituição – no Comitê Executivo do Cais do Valongo. A coordenadora teria dito que a área de arquivo, documentação e informação já estava representada e que, portanto, não era necessária a participação de Antunes.
A nota de Maria Izabel Oliveira gerou uma onda de desagravos em solidariedade a Jaime Antunes. Na sexta (05), o Fórum Nacional das Associações de Arquivologia (FNArq) lamentou a “maneira arbitrária, autoritária e desrespeitosa” como o ex-diretor foi tratado. O Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) também prestou sua solidariedade a Antunes.
Dois meses depois da enchente avassaladora que destruiu centenas de cidades no Rio Grande do Sul, finalmente alguém do Arquivo Nacional esteve no estado. O diretor de Gestão de Documentos e Arquivos, Jean Camoleze, e outros dois coordenadores do AN reuniram-se com servidores e direção do Arquivo Público do Estado na segunda (01). No encontro, Camoleze afirmou que o AN está “montando uma base de trabalho no Rio Grande do Sul para atender aos órgãos integrantes do Sistema de Gestão de Documentos e Arquivos (SIGA) e do Sistema Nacional de Arquivos (SINAR)”.
Enquanto abundam reuniões (e muita propaganda), a lentidão nas ações das instituições arquivísticas cobra seu preço. Na semana passada, uma reportagem da RBS TV mostrou que já existem cogumelos em documentos de um tribunal atingido pela enchente.
O Herbário BLA, da Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul, que contém uma coleção de grande importância histórica e científica, vai ser totalmente digitalizado até o final do ano. O órgão obteve verbas do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para a realização do projeto.
Terminou sem interessados o leilão da Quinta do Tanque, complexo que abriga o Arquivo Público do Estado da Bahia. Foi a quarta tentativa de arremate do prédio em 2024.
O acervo da Funarte, que estava encaixotado desde 2021 em função da interdição do prédio onde ficava a sede da fundação, está de casa nova. O novo prédio é um velho conhecido dos arquivistas brasileiros – a antiga sede do Arquivo Nacional, no Rio.
A pedido do Ministério Público Federal, a Justiça homologou um acordo que reforça a proteção da União à Cinemateca Brasileira.
E tem livro novo na praça. No dia 25, o professor André Malverdes (Ufes) lança Imagens da universidade: Catálogo do acervo fotográfico da Ufes.
MUNDO
O portal Internet Archive retirou cerca de meio milhão de livros de seu acervo virtual. A medida atendeu a determinações judiciais.
Especialistas dizem que bombardeios sistemáticos a bibliotecas e arquivos palestinos têm sido uma constante na guerra promovida por Israel contra o Hamas. Em entrevista ao jornal The National, o historiador palestino Hossam Abu Nasser afirmou que mais de 70% dos arquivos da Faixa de Gaza já foram perdidos na guerra.
O padre Rocco Ronzani é o novo “prefeito” do Arquivo Apostólico Vaticano, o antigo “arquivo secreto” da Igreja Católica. A nomeação aconteceu na semana passada.
PARA LER COM CALMA
Documentos raros da era britânica descobertos nos arquivos de Daund (em inglês, via The Bridge Chronicle).
Como essa boneca de uma menina aborígene dos anos 1800 foi parar em uma caixa de arquivo na Inglaterra? (em inglês, via ABC News).
Descobrindo o acervo: o caso do balde (via Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul).
PARA VER COM CALMA
Gaúchos tentam recuperar fotos e lembranças após enchentes no RS (via Band).
Qual seria uma boa instituição EAD para arquivologia?, infelizmente não tem cursos presenciais na minha região